Texto de Sófocles que rendeu à artista o Prêmio APCA de Melhor Atriz em 2017 será encenado em cinco unidades com ingressos entre R$ 2 e R$ 10. Circuito começa em Madureira, no Rio, dia 4 de outubro.
RIO DE JANEIRO – O Sesc RJ leva para cinco das suas unidades, no mês de outubro, o espetáculo “Antígona”, monólogo estrelado pela atriz Andrea Beltrão. A montagem do texto de Sófocles, traduzido por Millôr Fernandes e dirigido por Amir Haddad começa o circuito em Madureira, dia 4/10, e depois segue para Petrópolis (Sesc Quitandinha), dia 5, São João de Meriti (19), Niterói (25) e São Gonçalo (26). Os ingressos variam entre R$ 2 e R$ 10, com a possibilidade de retirada gratuita dos bilhetes para quem comprovar renda familiar até 3 salários mínimos e, em algumas unidades, também para portadores do Cartão Sesc.
No palco, a artista interpreta a personagem-título da trama, trabalho pelo qual foi agraciada com o Prêmio APCA de Melhor Atriz em 2017. Trata-se de uma jovem princesa que enfrenta a ordem do rei Creonte de deixar seu irmão, que lutou na guerra, sem sepultura. Ao desobedecer a determinação real, ela paga com a própria vida. É estabelecido, então, o confronto entre o Estado e o cidadão.
A história se passa em Tebas e foi escrita há 2.500 anos por Sófocles. Fez tanto sucesso na época que o público ateniense ofereceu ao autor o governo de Samos, uma das ilhas gregas. Na Antígona de Haddad e Andrea, ao contrário do autor original, que partiu do mito já conhecido para o teatro, parte-se do teatro para chegar ao mito que dá nome ao espetáculo.
“Todos esses mitos que povoavam o imaginário grego, como Antígona, faziam parte do dia a dia do povo, funcionavam como um bem público”, analisa o diretor assinalando que, quando o teatro se estabeleceu, naquele tempo, como uma forma de expressão artística, todos já conheciam o que seria representado. “Sófocles se apoderou da história e escreveu esse texto. O que Andrea e eu fizemos foi partir das informações da peça para chegarmos ao mito”.
Na opinião da atriz, um texto clássico como este não é de interpretação complicada. As narrativas embaralham as emoções por ir direto ao coração, à memória, e aos sentimentos. “Como um texto escrito há 2.500 anos pode falar exatamente sobre o que eu sinto agora? Não é a gente que lê o texto da tragédia grega, é a tragédia grega que lê a gente, por isso não precisamos ter medo de não entendê-la. Faz parte de nós, enriquece, questiona, exige que tentemos mais uma vez”, analisa.
Para ela e o diretor, essa montagem transpira atualidade gigantesca. “Fala da liberdade do cidadão diante do poder do Estado, e de como isso atinge a vida mais ancestral do ser humano”, observa Haddad. “A peça se dá nessa reflexão feita por ator e público sobre a história, por meio de uma excelente narradora, que é a Andréa”.
Em diálogo com a plateia em ritmo acelerado, conectado ao movimento do mundo contemporâneo, a atriz se utiliza de recursos mínimos, como uma echarpe vermelha ou um casaco, para desenrolar a trama e, assim, ir povoando o palco com os personagens interpretados por ela mesma. Andrea os apresenta, quase que didaticamente, antes de representá-los, permitindo ao público adensar o seu conhecimento da história e traçar paralelos com a atualidade.
Igualmente, a cenografia apresenta linguagem moderna e reforça a atuação da artista entre os atos de narrar e representar este mito, em cenas que se desenvolvem diante de uma espécie de árvore genealógica, em forma de mural. Uma cadeira, uma escada, uma mesa e um amplificador para o som com microfone, complementam o cenário. A proposta é restaurar a força popular do teatro.
Sobre a atriz e o diretor
Amir Haddad é diretor e professor de teatro, diversas vezes premiado. Considerado um dos maiores encenadores do Brasil, o criador do Grupo Tá na Rua, iniciado em 1980, leva a arte do teatro para o espaço aberto das ruas e praças, ressaltando a importância das comemorações populares na vida social e cultural das cidades. Amir Haddad recupera para o teatro o seu sentido de festa popular, dela resgatando sua dramaticidade.
Reconhecido internacionalmente, desenvolve uma série de atividades didáticas nas artes cênicas como oficinas, seminários e cursos. É criador de um teatro preocupado em se comunicar e se tornar cada vez mais próximo de sua plateia.
Como resultado de suas pesquisas e investigações, nestas áreas do teatro, desenvolveu ferramentas eficientes para a construção de um ator que responda ao sentimento contemporâneo, ao mesmo tempo em que o instrumentaliza para uma leitura aguda e profunda da trajetória humana e da dramaturgia produzida pelo teatro em todos os tempos. Entre seus últimos trabalhos estão A Mulher Invisível, de Maria Carmem Barbosa, A Mulher de Bath, de Geoffrey Chaucer, A Tempestade, de William Shakespeare, e Antígona, de Sófocles.
Andrea Beltrão iniciou sua carreira no Teatro Tablado em 1978, interpretando o personagem João Grilo, da peça O Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna. No início da década de 1980 integrou grupos teatrais. Em 1984, O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues, A Dona da História (1998), de João Falcão, Sonata de Outono (2005), de Ingmar Bergman, Jacinta (2012), de Newton Moreno, entre tantas outras.
Em 1984 estreou na novela Corpo a Corpo, de Gilberto Braga seguindo na TV Globo em sucesso como Rainha da Sucata (1990), de Sílvio de Abreu, Pedra Sobre Pedra (1992), de Aguinaldo Silva, Mulheres de Areia (1993) e A Viagem (1994), ambas de Ivani Ribeiro, Vira Lata (1996), de Carlos Lombardi e Era Uma Vez (1998) de Walter Negrão.
Ainda na TV, fez diversas participações em séries e especiais, como Armação Ilimitada (1985-1988), Comédia da Vida Privada (1997) e Brava Gente (2000). Entre 2002 a 2009, integrou o elenco do seriado A Grande Família, interpretando a cabeleireira Marilda. Também participou da minissérie Som & Fúria (2009) e das séries O Bem Amado (2011) e Tapas & Beijos (2011-2015), com a personagem Sueli.
No cinema com o filme Bete Balanço (1984), de Lael Rodrigues. Sua atuação na tela grande inclui também os filmes Garota Dourada (1984), de Antonio Calmon, O Coronel e o Lobisomem (2005), A Grande Família – O Filme (2007) e Verônica (2009), dirigidos pelo cineasta Maurício Farias, Cazuza – O Tempo não Para (2004), O Bem Amado Estreou (2010), O Penetras (2012), Chatô, o Rei do Brasil (2015), Sob Pressão (2016), Sueño Florianópolis e Albatroz (2018) e Hebe – A Estrela do Brasil (2019).
No cinema, recebeu premiações em festivais nacionais por seu desempenho em O Escorpião Escarlate (1986) e Minas-Texas (1989). Pelo teatro, venceu o Prêmio Shell de Melhor Atriz pela peça A Prova (2002), dirigida por Aderbal Freire Filho, em 2008 mereceu novamente a premiação, desta vez por sua atuação, ao lado de Marieta Severo, na peça As Centenárias, de Newton Moreno, e em 2017 recebeu o Prêmio APCA de Melhor Atriz com a peça Antígona dirigida por Amir Haddad.
FICHA TÉCNICA
Autoria: Sófocles
Tradução: Millôr Fernandes
Dramaturgia: Amir Haddad e Andrea Beltrão
Direção: Amir Haddad
Com: Andrea Beltrão
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurino: Antônio Medeiros
Direção de Movimento: Marina Salomon
Ambientação e Projeto Gráfico: Fabio Arruda e Rodrigo Bleque
Trilha Sonora: Alessandro Persan
Desenho de Som: Raul Teixeira
Operação de Luz: Diego Diener
Produção: Boa Vida Produções
Realização Turnê: Trígonos Produções Culturais
Agradecimentos: Marieta Severo, Aderbal Freire-Filho, Fernanda Torres, Fernando Philbert, Marilena, Laura, Chico, Rosa, Zé, Antônio, Mauricio, Ana Cristina Manfroni, Zé Mário Pereira.
SERVIÇO
“Antígona”, com Andréa Beltrão
Duração: 60 minutos
Datas/Horários:
Sesc Madureira, Rio de Janeiro – 04/10 – sexta-feira, às 19h
Grátis (habilitado Sesc e PCG*), R$ 5 (meia-entrada e classe artística mediante apresentação de registro profissional), R$ 10
Classificação: 14 anos
Sesc Quitandinha, Petrópolis – 05/10 – sábado, às 20h
Grátis (PCG), R$ 2 (habilitado Sesc), R$ 4 (meia-entrada e classe artística mediante apresentação de registro profissional), R$ 8
Classificação: 14 anos
Sesc São João de Meriti – 19/10 – sábado, às 19h
Grátis (habilitado Sesc, PCG), R$ 5 (meia-entrada e classe artística mediante apresentação de registro profissional), R$ 10
Classificação: 14 anos
Sesc Niterói – 25/10 – sexta-feira, às 19h
Grátis (habilitado Sesc e PCG), R$ 5 (meia-entrada e classe artística mediante apresentação de registro profissional), R$ 10
Classificação: 14 anos
Sesc São Gonçalo – 26/10 – sábado as 19h
Grátis (habilitado Sesc e PCG), R$ 5 (meia-entrada e classe artística mediante apresentação de registro profissional), R$ 10
Classificação: 14 anos
*PCG: Programa de Comprometimento e Gratuidade